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Claro que estou ansioso

26 de novembro de 2013

Claro que vim falar da ansiedade pela chegada do Danilo. Claro que ando fumando mais do que o normal – e não, não acho isso nada legal. Claro que farei de tudo para diminuir, se não eliminar, o cigarro da minha vida. Claro que o quarto dele já está pronto. Claro que tem bagunça dele a ser arrumada. Claro que dá tempo. Claro que tá em cima da hora. Claro que vamos fazer de tudo para que sua chegada seja digna da ansiedade. Claro que isso não pode significar correria. Claro que precisamos acelerar o passo. Claro que as coisas vão mudar. Claro que mudaram.

Claro que a Marcia está mais ansiosa do que eu. Claro que não. Claro que sim, é lógico. Claro que isso não é tão claro assim. Claro que estamos felizes! Claro que me preocupo se vai chover. Claro que nos preocupamos com o calor. Claro que a Ramona vai ter que aprender a não pular em todos. Claro que, se pular no Danilo, que esteja no colo. Claro que se não estiver, Ramona vai levar pito. Claro que ela já sabe. Claro que ela já ouve o coração dele desde 0s primeiros meses, ao deitar na barriga da Marcia. Claro que serão irmãos. Claro que não são irmãos. Claro que posso pensar assim. Claro que amamos ambos. Claro que amamos o Danilo de forma totalmente diferente. Claro que isso é claro.

Claro que, para mim, 5 dias de folga serão pouco. Claro que quero 5 semanas, 5 meses. Claro que não dá. Claro que não agora. Claro que as horas com eles – sim, eles – serão só deles. Claro que o tempo agora é bipartido entre “com eles” e “sem eles”. Claro que vou chegar mais cedo. Claro que vou tentar, sempre. Claro que nem sempre vou conseguir. Claro que quero dar boa noite ao Danilo. Claro que, infelizmente, nem sempre vou conseguir. Claro que “bom dia”, “boa madrugada” e “boa tarde” serão mais comuns.

Claro que todos vão amar o Danilo. Claro que os avós são os mais babões. Claro, depois dos pais. Claro, antes dos padrinhos. Claro que ele vai acordar de madrugada, aos berros. Claro que estaremos lá. Claro, todos nós. Claro que vamos levar sustos, alguns maiores que os outros. Claro que isso é normal. Claro que não deveria ser normal achar isso normal. Claro que está tudo sob controle. Claro que sim. Claro que não. Claro que vou assistir ao parto. Claro que posso mudar de ideia. Claro que é comum os pais fazerem isso. Claro que alguns sentem certa angústia. Claro que pode.

Claro que são os 6 dias mais longos dos últimos 6 segundos.

As fases, o mártir e os imbecis

13 de novembro de 2013

Todo mundo vive de fases. O jogador de futebol, o jornalista, o publicitário, o investidor. Eu já tive as minhas, e não foram poucas: a famosa revolta adolescente, o caminho até os 20 anos de amores e bebedeiras , o cabelo vermelho, o cabelo amarelo, o cabelo amarelo e preto, as camisas de banda (e só camisas de banda, preferencialmente, pretas e de bandas punks), a irresponsabilidade financeira, a responsabilidade financeira, a fase de ser o palhaço da turma, a fase em que se percebe que ser o palhaço da turma é uma grande babaquice, o desapego com amigos de infância, os primeiros cabelos brancos, o amor real, o casamento, filho e tudo mais. Uma fase que nunca vivenciei, e sou grato a milhares de fatores por isso, foi a da ignorância.

Não estou falando sobre aquela atitude agressiva e ignorante fisicamente. Dessa, sempre passei longe. Nas poucas vezes que me aproximei dela, percebi que era das mais imbecis escolhas possíveis. Digo da ignorância de pensamento.  A fatídica “pobreza de espírito”. Aquela que leva pessoas a acreditar que pisar na cabeça de outras é um trampolim para o sucesso, e não para a latrina. A mesma que faz com que existam guerras, fome, miséria e o boom do funk ostentação.

Hoje, posso dizer que estou na fase da “pouca paciência para pessoas ignorantes”. Em todos os sentidos. Se estou perto ou no meio de uma conversa onde argumentos se transformam em verdades absolutas e irrefreáveis, me afasto. Se me chamam de volta, costumo demonstrar meu total desprezo pela conversa em si. Viro, vou embora e, com certeza, vivo muito mais feliz. Uns podem chamar isso de fuga ou falta de combatismo. Eu chamo de “evitar mandar a pessoa coçar o cu com os dentes”.

Não costumo – e para falar a verdade, nem gosto – de discutir religião. Com ninguém. Umbandista, evangélico, satanista, budista, judeu, ateu (sim, considero uma religião, já que a defendem com quase o mesmo ardor das outras ditas “fés”) e católicos. A mais próxima de nós, brasileiros, é o cristianismo. Aquela que prega que devemos amar uns aos outros e fazer o bem sem olhar a quem. O problema, para mim, é quando o cristão abre a boca e cospe os espinhos da cruz de seu mártir na cara dos outros. Ou bate palmas ao ver o bandido morto. Esse é duro de engolir. E eu não tenho paciência para isso. O problema é que, nesses casos específicos, costumo – antes de me afastar – pedir que a pessoa escove a arcada dentária com o próprio rabo.

Em uma época (que temo não ser apenas uma fase) em que a população cristã brasileira enxerga que, ao pagar seus impostos e vê-los distribuídos (em partes) entre pobres e desempregados, estão financiando a vida de vagabundos e fantoches políticos, não é de se espantar que vivam vidas cada vez mais tristes. Perdem cabelos, ganham barrigas e coronárias entupidas, além de trocas constantes de mudas de roupa – da casa da mulher, para a casa da mãe. Reclamam de tudo, desconfiam de todos, acham o açúcar salgado demais.

Se há algo que admiro nas religiões e nessa “nova sociedade politicamente pensante”, é o bom senso de suas premissas.
Só que não.

Já agreguei no balcão do bar

5 de novembro de 2013

Para variar, em um país onde “ninguém assiste Rede Globo ou lê a Veja, as últimas 48h foram recheadas de críticas e piadas a um empresário que disse gastar de R$ 5 mil a R$ 50 mil em baladas. Desfila de carro importado, daqueles que vemos em fotos e pensamos “ok, deve ser legal ter um carro desses… fora do Brasil” e vive rodeado por subcelebridades da TV e outros cafundós da mídia. Aos 39 anos, o rapaz (que não citarei o nome para não gerar buzz excedente, já que todos o conhecem) é apenas um cara que, graças a inúmeros fatores que desconhecemos, enriqueceu e leva a vida que – sim – muitos de nós adoraria levar.

O mais interessante é: qual a novidade em tudo isso? Por que as pessoas se incomodaram tanto com o fato, afinal? Todos sabem que existem pessoas assim, e aos montes. Aqui, em Dubai, no Rio de Janeiro, Brasília, Nova Iorque. Se bobear, até em Macaé. É natural, por mais extravagante e desnecessariamente lúdico que possa parecer.

A impressão que tive é que as pessoas levaram o mesmo susto da época em que descobriram que políticos recebem valores, por fora de seus ganhos, para votar projetos de interesse de um ou outro. O susto que tiveram ao notar que mesmo um homem como Eike Batista, também tem suas dívidas. O “pavor” de perceber, depois de tantos e tantos anos, que um país como o Brasil também possui seus multimilionários – e que não são poucos. Se o tal empresário gosta de ostentar sua condição social, e isso soa meio bobo a tantos, não deveria assustar. Quem bebe e não fica rico, afinal? Você sai com R$ 30 no bolso, e consome mais de R$ 200 durante a noite.

Eu mesmo já fiz muito do que ele disse naquele vídeo de quase 10 minutos. Nunca andei com seguranças, muito menos pilotei uma Ferrari, mas gastar valores tidos como “absurdos” em festas, bebedeiras…? Sim, várias vezes. A questão é que esses valores podem ser absurdos de diversos pontos de vista. Quando você tem 21 anos e gasta R$ 1000 em farra, sendo que ganha R$ 800, isso é ostentação (existem sinônimos para idiotice que beiram o infinito). Você não tem, mas esbanja, e sente-se feliz por isso.

A única diferença da sua vida para a vida dele, é que quando você atinge os 30 anos e gasta 150% de seu salário durante o mês, é em contas, prestações e um mínimo aceitável do intangível valor da “qualidade de vida”. Já ele, bem… ele pode. Se isso lhe ofende, já são outros R$ 500 mil.

Sociedade Racista

1 de novembro de 2013

Ben (Foster) Weasel é, sem dúvida, meu autor preferido. Sim, considero ele como sendo mais ídolo e inspiração para mim do que Joey Ramone, Greg Graffin ou Billie Joe. Não é escritor – mas já publicou um livro. É, “apenas”, compositor, cantor, guitarrista e um dos ícones do punk rock há mais de 27 anos, nos Estados Unidos. Mezzo esquerda, mezzo direita (e, acreditem, vem pendendo muito mais para esse lado), Ben já foi acusado, por várias vezes, de ser duas caras. Por fãs, ex-integrantes de suas bandas e, claro, por donos das gravadoras por onde já passou. Independente de reagir a cubos de gelo atirados em sua direção com socos nos rostos de garotas, foi nele que encontrei algumas respostas rápidas, precisas e bem fundamentadas para muitas coisas. Quase me evangelizou, se assim posso dizer.

Quando vejo esse berreiro coletivo em reação ao anúncio de aumentos em impostos no Brasil, assim como o eterno eco das multidões contra os projetos sociais – como o Bolsa Família e as Cotas para negros em universidades -, sinto que, se possível, as pessoas poderiam, apenas, sentar e ouvir alguma coisa que Ben tenha a dizer sobre o assunto. Não, ele não sabe de nada do que acontece aqui. Provavelmente é mais um dos milhares de americanos que acreditam que a capital do Brasil é Buenos Aires ou o Rio de Janeiro. Que criamos onças pintadas em nossos quintais, e que andamos nus pelas ruas (ok, Fevereiro não conta).

Gasto linhas para inserir, aqui, uma canção composta por ele, há mais de 20 anos. Acho que isso resume muito o que gostaria de opinar sobre os assuntos citados no parágrafo anterior, mas com muito mais precisão.

Sociedade Racista

Sabia que você vive em uma sociedade racista?
Sabia que você é a classe privilegiada – E que todas as outras pessoas estão, essencialmente, tomando no rabo?

Sabia que você pode ser livre?
Sabia que essa não é a maneira que precisa ser?
Sabia que você ainda pode mudar tudo?

Sabia que não há nada disso de “igualdade”, e que talvez nunca exista se você não mudar?

Sabia que você vive em uma zona de guerra, culturalmente?
Sabia que seus pais estavam fodidos – Quando te ensinaram a temer qualquer um que não fosse branco o bastante?

Sabia que você pode ser livre?
Sabia que essa não é a maneira que precisa ser?
Sabia que você ainda pode mudar tudo?

Sabia que quanto mais você envelhece, fica mais fácil de culpar outras pessoas pela sua própria bagunça?
Sabia que os judeus não comandam o mundo? E que nem todos os negros são criminosos?
Sabia que há muito dinheiro pra se ganhar por te deixar paranóico, preocupado, assustado, ferido e tenso por dentro?

Porque grandes negócios comandam o governo – e não é bom negócio se derrubarmos o governo.

Então eles nos mantém ocupados com programas de televisão idiotas e cervejas baratas que varrem nossas células cerebrais, reclamando sobre o congresso e impostos idiotas.

E se isso não fosse o bastante para manter sua cabeça distraída de como você está sendo enganado, eles te enchem de medo e ódio, te dando alguém para culpar por todos os seus problemas – Será que é por isso que o país está indo privada abaixo?

Sabe o que eles pensam sobre você?
Sabe o quanto desdenho eles têm por você?
Sabe como é fácil te enganar?

Você é como um cachorro que corre atrás de uma bola que nunca foi arremessada.
Bem, adivinhe: você está por contra própria.
Boa sorte.

Para quem leu até aqui e se interessar por ouvir a música, em inglês: