32 desde os 25

10 de setembro de 2015

Esse ano, comemorei meu aniversário de forma antecipada. Fiz um churrasco em casa, convidei algumas dezenas de amigos, outra dezena de familiares e celebrei a proximidade dos “enta” – sim, os anos voam, sei que eles estão por aí, e chegarão em breve. O problema, talvez, é que pelas contas, eu teria, hoje, 39 anos. Isso porque desde os 25, me dizem que aparento ter mais de 30. Quando somos mais jovens – durante a adolescência, principalmente -, é muito bom ouvir isso: “Nossa, você tem 16? Pensei que tivesse 20!” Denota maturidade, experiência, inteligência. Já quando se passa dos 20, ah, meu amigo… você vira tio ou tia.

Lembro da fatídica vez que estava no Hangar 110 com um amigo (não lembro qual) para ver um show. No intervalo entre uma banda e outra, fui ao bar e o encontrei conversando com uma garota. Típica da casa: cabelo tingido, piercing no nariz, alargador na orelha e camisa de banda. Entrei na conversa por não conhecer mais muita gente por ali. Em certa altura, ela faz a pergunta que homem nenhum gosta de ouvir, ainda mais vindo de uma mulher.

– Quantos anos acha que tenho?

Sinceramente, não faço a menor ideia do porque ela tenha me perguntado aquilo. Mas senti um frio na espinha. Mulher é diferente. Se você diz que ela é mais nova, entende que parece menina, criança. Se você chuta alto, leva aquilo como uma ofensa. Chutei colocado, com calma.

– Bem, você não aparenta ter muito mais do que realmente deva ter – completei com um risinho a resposta patética.
– Mas, fala! Sério! Quantos anos? – maldita.
– Ahm, vejamos… você está num show onde a maioria do pessoal tem entre 25 e 30… então… tem… 25?
– Isso! Tá vendo, fulano? (esse amigo que não me lembro quem é) Ele acertou na hora!
– É que aparenta, mesmo – mentira, ela tinha cara de uns 29, mas né…

Foi então que o fulano – também maldito – mandou a pá de cal:

– E você? Quantos anos acha que o Koelho tem?

A resposta foi tão rápida e certeira que jurei ter deixado o RG cair do bolso.

– 32!

Acenei com a cabeça afirmativamente e pedi licença da conversa para ir fumar. E lamentar: eu já tinha cabelos brancos aparentes na lateral da cabeça. Eu já tinha rugas na testa. Eu tinha sido visto como um cara que se chama de “tio” ou “senhor” por uma “adulta” de 25 anos. E eu também tinha 25.

Contei para a esposa – à época, namorada – que riu. “Quem manda ficar xavecando essas menininhas roqueiras por aí?”

Se tivesse sido um xaveco, de repente, não teria me sentido tão incomodado. Lembro que naquela semana fiz a barba 3 vezes. Cortei o cabelo. E não adiantou nada – eu tinha, mesmo, envelhecido mais rápido.

Hoje, aos 32, acho isso bom. Não ótimo. Mas bom. Ao menos, posso dizer que aos 32 já completei partes importantes da vida: já fiz um filho, já formei uma família, já “escrevi um livro” – considero fazer músicas como sendo a mesma coisa.

Só me falta plantar uma árvore.
Vou plantar uma daquelas enormes, centenárias, que crescem demais a ponto de estragar as calçadas com suas raízes e a rede elétrica com seus galhos. E ainda suja a rua inteira derrubando uma quantidade absurda de folhas.

Só para irritar, como todo velho faz.

Grassring (09/06/12)

8 de junho de 2015

Do you recall the times when we had no one but ourselves?
Lembra de quando que não tínhamos ninguém se não nós mesmos?
Wouldn’t trust anyone else or even let you be part of my life
Não confiaria em ninguém ou deixaria você fazer parte da minha vida
Do you recall when I had just no place at all to go
Se lembra quando eu não tinha pra onde ir
And wanted to get to you but you were always way too far away?
E queria chegar até você, mas você sempre parecia estar longe demais?
I’ve been here, stayed here, trying to be something
Eu estive aqui, fiquei aqui, tentando ser alguma coisa
that you would be happy to remember, someday, somewhere
que você ficaria feliz em lembrar, um dia, em algum lugar
Maybe one day I’ll be sure of everything I mean to you
Talvez um dia eu tenha certeza de tudo que eu significo para você
And know this is never supposed to change
E eu sei que isso nunca deve mudar
Do you recall the days when I had nothing but these songs?
Se lembra quando eu não tinha nada além dessas músicas?
No one else would sing along, but still it was the only place to go
Ninguém cantaria junto, mas ainda assim era o único lugar para ir
And I just wonder why these memories remain intact
E eu me pergunto o porquê dessas memórias permanecerem intactas
Why is it hard to forget the things I most wanted would go away?
Por que é difícil de esquecer as coisas que eu mais quis que fossem embora?
I’ve wasted it, faked it, lived my life away trying to find
Eu joguei fora, fingi, vivi minha vida tentando encontrar
the love that I found hidden, inside your heart
o amor que achei escondido dentro do seu coração
But I know I want you to be forever by my side
Mas eu sei que quero você para sempre do meu lado
‘Cause that`s the place where you belong
Porque aqui é o seu lugar

post

Diga algo a você mesmo. Em 1 minuto.

14 de maio de 2015

Imagine a seguinte situação, completamente fictícia: você tem acesso a uma máquina do tempo. Ela irá te permitir, por apenas 1 minuto, encontrar com você mesmo, mas há 15 anos. O que você faria?

Bem, a questão é patética, mas não deixa de ser interessante. A fiz, basicamente, porque sonhei com isso, na noite passada – provavelmente, a ressaca da derrota corinthiana me fez delirar.

O pouco que me lembro do sonho era que, ao entrar em uma caixa sem fundo (?), ia parar no condomínio onde morei de 1992 a 2011. E me encontrava comigo mesmo, antes de ir para o colégio.

Eu ia me seguindo pelo condomínio. Um caminho curto, entre meu prédio e a portaria. Sei lá, uns 20 segundos de perseguição. Um dia feio, cinza, frio, bem comum e bem atual, inclusive.

– Ow! Rafael! Koelho!
– …eu?
– É! Não tá me reconhecendo, não?
– Ahm… não, tô não.
– Hahaha caralho, meu! Que louco isso!
– Putz, cara… foi mal, não tô lembrando de você!
– Eu sou você, porra! Só que velho!
– Hahahaha tá foda, hein? Falou, cara!
– Não, ow! Sério! Espera aí!
– Não posso, cara! Tenho aula! Você mora aqui?
– Porra, meu! Olha pra mim! Você é filho do Zezinho e da Lúcia!
– Sou sim, hahaha, mas e daí? Te conheço de onde?
– Sua vó é a Terezinha! Tem o Rocco!
– Rocco eu não conheço, não… mas e daí, cara?
– Se esforça, velho, é sério! Tá ligado o Seven Elevenz?
– Você conhece, é?

Acordei. Não consegui falar porcaria alguma comigo mesmo. Dar um recado, perguntar sobre algo que já me esqueci, aconselhar. Nada. Só fiquei bobo demais, bêbado até no sonho, tentando me convencer de que eu era eu.

Mas uma coisa pude perceber: eu falava mais “cara” do que o Dinho Ouro Preto.

Chandler deveria ter sido revisor publicitário

12 de maio de 2015

Depois de… ahm… vejamos… 15 anos, vou tirar férias. Mas não “um tempo sem trabalhar”. Isso eu já fiz diversas vezes, graças ao desemprego. Férias, daquelas que você recebe uma graninha para gastar com você mesmo e tudo mais. Uma viagem, uma compra, uma dívida nova ou antiga, o que seja: férias. Trinta dias de férias, sem mimimi. Graças a isso, tive que procurar alguém para ficar no meu lugar nesse período. Alguém que esteja acostumado a trabalhar com revisão – e essa palavra – ah, as palavras! – confundiram, e ainda confundem, muita gente.

A busca parecia ser simples: alguém com experiência em revisão publicitária. Em agência. In loco. Por 30 dias. O resultado foram mais de 120 e-mails de profissionais de atendimento, redação, design, tradução e… revisão de textos. Muitos bacharelados em Letras, muitos professores – desempregados ou não -, muita gente que acredita que escrever em um blog ou nas redes sociais é, automaticamente, um trabalho de redação – e, pasmem! também de revisão. Natural, já que o trabalho do revisor publicitário é como a profissão do Chandler, em Friends. Lembram? Claro que não.

FRIENDS -- NBC Series -- Pictured: Matthew Perry as Chandler Bing -- Photo Provided By: Warner Bros.

O que mais me espantou é a quantidade de pessoas que, simplesmente, não sabem o que estão fazendo. Mandam currículo como se estivessem dando like em um post de Facebook. Não têm a mínima experiência ou, às vezes, perfil para a vaga. Claro, eu sei que eles pensam: “Vou enviar mesmo assim, pelo menos, se um dia precisarem de alguém como eu, já largo na frente”. Mas, não. Isso não acontece. Pelo menos, não comigo. Desculpem. Recebi e-mails de pessoas que pretendem vagas no setor de RH da empresa. Acham mesmo que o atual RH vai guardar estes dados? Pô, pessoal…

A parte mais chata, além de ter que receber uma pancada de e-mails de pessoas que, aparentemente, só estão desempregadas por falta de oportunidades – alguns currículos que recebi eram realmente excepcionais, mas estavam na hora errada, no lugar errado -, é dar o tal do feedback. Tento responder a todos: “não foi dessa vez, mas muito obrigado pelo interesse. Seu CV ficará conosco para futuras oportunidades”. Se isso vai mesmo acontecer, não sei – não cabe a mim. Mas minha parte está feita. Não detalho a razão pelo qual aquele currículo não foi selecionado, porque me estenderia demais, talvez sequer fosse compreendido. Mas a busca está no fim. Quase, na verdade. Falta selecionar um entre nove.

E faltam só mais 21 dias.

O dia em que me assediaram

24 de março de 2015

Claro que não acontece com todos os homens. Talvez, com os mais asseados, seja algo mais comum. Mas, salvo raras exceções – como aquelas em festas open bar ou na aproximação de um meteoro que irá colidir e extinguir com a vida na Terra – homens não costumam ser “xavecados”. Assediados, então, muito menos. Aquele tipo de assédio que as mulheres sofrem – que vão de buzinadas de carros ou motos, a puxões de cabelo e verdadeiros mata-leão -, seguidos por algum assobio ou frase pouco inteligente é mais comum. Triste, porém comum. Na cabeça de muitos homens, por exemplo, quando ele acelera ou empina a moto, o cérebro da mulher comanda: “monte naquela garupa, faça sexo loucamente com ele”. Ontem tive de passar pela terrível experiência de ser “assediado”. Não que tenha sido algo tão traumático quanto as situações citadas anteriormente, mas, convenhamos: rendeu um post.

Por volta das 16h, diariamente, saio para fumar um cigarro. Ou dois, dependendo do espírito cancerígeno. Como estava com apenas um cigarro no maço, fiz uso do maldito e parti ao Frans Café aqui de perto, para nova aquisição. Por sinal, só vou a esse local para comprar cigarros. Qualquer lugar onde um café de pouco mais de 40 ml custe R$ 5,50 não deve ser frequentado. Não onde se veja mais pessoas de terno e gravata do que com camisas do Parangolé. Não dá, não é justo, não é para pobre legal. Na volta, na calçada do meu prédio, me deparei com uma das situações do dia a dia que mais me irritam: o “paredão de pessoas da mesma firma”. Baseia-se em um coletivo de 3 ou mais pessoas, da mesma empresa que, por serem “colegas de trabalho”, acreditam que precisam andar lado a lado, bloqueando a passagem de quem quer que seja. É daquelas coisas que apenas o “mundo corporativo” pode oferecer.

Eram três garotas. Mesmo de costas, percebia-se os crachás pendurados no pescoço, que servem tanto para liberar catracas, quanto para reservar assentos em praças de alimentação. Uma delas atrasou o passo e abriu-se uma clareira. “É agora!”, pensei. Com a agilidade de um trombadinha consegui passar por entre elas, com apenas duas passadas e uma leve malemolência. Eis que sinto algo perturbador. Fiquei atônito. Sem graça. Com vergonha. Querendo apertar um botão e me teletransportar para um mundo de pessoas sem mãos: uma delas passou a mão na minha bunda.

É tão constrangedor que você vira para a pessoa com uma cara de quem assiste pela primeira vez a uma novela da Record. Uma delas soltou uma espécie de grito curto, um “Ai!”, e as outras riam. Querendo sentir a foice da morte se aproximando, questionei:

– O que é isso?!
– Nossa, SENHOR, perdão! Eu…
– Meu… que isso?!
– Ela pensou que fosse um amigo nosso da “firma”! – disse outra, enquanto ria – muito.
– Car****! Meu… 
– Nossa, desculpa, por favor! Desculpa, mesmo! Foi mal!
– Não… ahn, tudo bem – e comecei a rir, de vergonha, claro.

Me distanciei do paredão enquanto me aproximava do meu prédio. Elas passaram, ainda rindo e pedindo desculpas, com acenos. E fiquei lá, imaginando se eu teria como ter dito algo além de meros “Meu”, “O que é isso?”. E não teria como. Foi um engano, uma brincadeira que não deveria ter acontecido comigo. Por sinal, desde quando se cumprimenta alguém apertando sua bunda? E se fosse um tapa? Ou uma ded… deixa pra lá.

Passou, ela passou, passou e acabou.
Que horror!

Filé à Osvaldo Aranha – bacana

11 de março de 2015

Uma das coisas mais bacanas da vida é saber reconhecer seus defeitos, orgulhar-se das qualidades que possui e, principalmente, ter humildade de ouvir e fazer algo que ainda não conhece bem, quando bem assessorado. E a palavra “bacana” vem a calhar nesse post. Em uma das raras vezes em que almocei fora do trabalho (sou daqueles que traz comida de casa), resolvi ir a um restaurante “bacana” aqui perto. Por quê? Porque me deu vontade e, claro, principalmente, porque achei que pudesse pagar a conta, mesmo entoando o karma pós-refeição “poder eu posso, mas não deveria”.

Sentei-me à mesa e olhei o cardápio. “Bacana”, pensei. Tinha uma penca de opções gostosas. Felizmente (ou não), todas vêm com o preço logo ao lado. Como estava com muita fome, resolvi apelar para a quantidade – não antes pensando da forma mais comum de se escolher algo: indo no que já conhece ou dizem ser bom.

– Filé à Osvaldo Aranha, por favor.
– Ao ponto ou mal passado?
– Ao ponto.

oswaldoaranha

Enquanto esperava meu prato, que demorou uns 20 minutos, olhava para a televisão. Ouvia um programa de esportes nos fones de ouvido, como de costume. Às vezes, abria o e-mail para conferir detalhes de um freela. Quando o garçom voltou e “montou” meu prato – achei isso bem “bacana” – um senhor ao meu lado interviu:

– O arroz tem que ser misturado à farofa, hein?

Sorri timidamente, com aquele tom de “Bacana, cara. Agora me deixa comer em paz” e rumei para as primeiras garfadas. O senhor não se continha.

– Você sabe quem foi Oswaldo Aranha, não sabe?
– Um político gaúcho, não? Já li a respeito.
– Ele adorava comer isso aí… por isso homenagearam ele no prato.
– Pois é! Verdade.
– Qual seria o prato que poderia homenagear a Dilma, hein, meu amigo?
– Hmmm… Fritada à Brasileira?

Juro que não imaginei que o senhor fosse rir tão alto. Passei vergonha, muita. Ele riu por uns 10 segundos e disse que estava esperando a esposa chegar do trabalho para almoçar com ele. E nada da tal senhora chegar. E nada do cara parar.

– E esse bando de desempregados pedindo impeachment, você viu? 
– Ahm, vi, sim… vai ser no domingo, né?
– Domingo, segunda-feira, vai ser direto. E o pior é que eles estão querendo mesmo!
– Mas eles querem, mesmo. E vão continuar querendo até que, um dia, quem sabe…
– Devem ser todos microempresários.
– Não… tem muitos, mas a grande maioria é “peão”, mesmo.

Mais um riso alto do senhor aqui. Maldita senhora que não chegava. Maldito vinho no copo dele.

– Imagina o que vão falar da nossa democracia se, em menos de 20 anos, houver outro impeachment?
– Quase 30 anos, né? A nossa democracia ainda mora na casa dos pais, né… uma pena.
– Não entendi… na casa dos pais?
– É, sabe? Já tem idade para ser independente, plena…
– Ah, sim! É isso que eu disse: por que um estrangeiro investiria aqui, um país sem rumo?
– Em transição, no caso…
– Mas essa transição não tem fim nunca! Meu filho vai nessa coisa do dia 15. Um besta.
– Deixa ele te ouvir dizendo isso. Vai te chamar de comunista, hein?
– Ele vai levar meus netos, também. Acho uma perda de tempo. Impeachment!
– Ah, deixa esse pessoal… se um dia conseguirem, quem sabe, não sossegam?

Chega a esposa do cara. Graças ao bom Joey. Por mais que…

– Linda, estou conversando aqui com meu novo amigo, tudo bem?

Não, cara… não força… meu prato quase esfriando…

– Vou ao banheiro lavar as mãos. Pede o de sempre para mim? – diz a mulher.
– Sim, peço. E vinho também.

Nesse momento pensei em ligar para o trabalho e dizer que não ia conseguir mais voltar.

– Bem, garoto, aproveite seu prato aí. Foi um papo “bacana”.
– Sem problemas, foi sim. Bom apetite para vocês.

Mas a curiosidade é uma porcaria. Eu não sabia o nome do senhor. E ele parecia ser um cara… ahm… “bacana”. Por mais que falasse muito em um momento em que eu gosto de ficar calado. Mas, perguntei.

– Desculpe, nos falamos e nem sei seu nome.
Alonso! E você?
– Rafael, prazer!
– Prazer! Você come com pressa, está em horário de almoço, não?
– Sim, sim… logo mais tenho que estar lá.
– Então você não vai na passeata mesmo!
– Por trabalhar? Não, o pessoal que vai também trabalha. É de domingo…
– Mas se houver impeachment e trabalharem em multinacional, vão pra rua. Nacional, então…
– Pela… (mastigada) quebra de… 
– Confiança! Se está ruim agora, imagine depois! Iraque!

Pausa para comentar que não, não entendi MUITO bem a relação com o Iraque, mas deixei passar. Minha fome tinha quase acabado.

– Acho que tudo tem jeito. Mas… vamos ver!
– Eu não andaria num carro que já perdeu os freios duas vezes!

Aí entendi o que o senhor queria dizer.
E agradeci – pela última vez – pelo papo.

E por mais que saiba que não foi uma pessoa de boas companhias: obrigado a você também, Osvaldo Aranha. Foi bacana.

Marci(nh)a

6 de março de 2015

Ontem ela fez as unhas, tomou vinho e comeu uma boa massa.
Preparei um jantar especial.
E estava a seu lado.

Hoje ela vai rir, dançar, beber, arrumar o cabelo e se maquiar.
Temos um casamento na família para ir.
E estou a seu lado.

Amanhã estaremos entre amigos e família, celebrando.
Temos um churrasco em casa a fazer.
E estarei a seu lado.

Em algumas semanas, completaremos 7 anos juntos.
E tudo meio que começou no aniversário dela.
E ela escolheu ficar a meu lado.

Hoje, amanhã e por mais um bom tempo, continuarei a seu lado.
Porque te irrito, te faço me odiar, te agrado pra disfarçar minhas provocações.
Mas é o jeito que encontro de agradecer pelo que tem feito por mim, durante tanto tempo.

Parabéns, Marci(nh)a!

33

Narcisismo na ponta dos dedos

20 de fevereiro de 2015

Deve ser regra e desconheço. Provavelmente, a operadora concede desconto. Ou o aparelho fica mais veloz, ágil. Será que amplia a memória? Aumenta o tráfego de dados da internet? Gera novas formas de se fazer e receber ligações? Insere emoticons exclusivos e personalizados. Afinal de contas, pra quê caralhos alguém coloca sua própria foto como imagem de fundo do celular?

No início, imaginei que fosse uma questão de segurança ou coisa que o valha. Muitas pessoas podem ter o mesmo modelo de celular, da mesma cor, com a mesma capa e, de repente, por engano, levar o seu embora. Ela perceberia assim que sua imagem Postmodern aparecesse na tela. Algo como: “Bem, deixa eu ver meu Facebook aqui e… Opa! Claudinha? Nossa, me confundi! Vou devolver!”. Mas não, não é isso.

Amor próprio? Autofelação visual? “Meu deus, como sou lindo (a)!”. Qualquer coisa vira motivo para selfie ou fotos no espelho. Um decote de gorda. Uma barba rala de adolescente. Um boné da Oakley feito pela Cuca Fresca. Um “novo” corte de cabelo. Não faz mal, vale o registro. Para sempre. Ou por dias. Ou até quando alguém te disser que sua foto já está “meio antiga”. Aí magoa. E a pessoa vai comprar outro boné. Ou trocar de lingerie. Ou raspar a cabeça. Mas não, não é isso.

Uma explicação conveniente seria bastante simples: porque o celular é da pessoa, e ela coloca ali o que bem entender. “Paguei, é meu, a vida é minha, não me enche!”. E concordo com essa. Eu também não vejo problema em você ser um completo imbecil carente que não come e não é comido por nada nem ninguém e sinta necessidade de se autoelogiar diariamente, assim que recebe uma ligação, mensagem de texto ou foto de sacanagem no WhatsApp. Só acho meio… como dizer? Humilhante?

O mundo é enorme. Há mais de 7 bilhões de pessoas nele. Paisagens paradisíacas, imagens tocantes, símbolos e brasões que podem representar muito para sua vida. Um cantor, uma dançarina, um platelminto, sei lá. Não: na sua cabeça, não há nada no universo que seja mais digno de sua apreciação do que você mesmo (a). Diz que ama pizza, que morre pelos pais, que é Palmeiras de coração, que é defensor dos animais, “Força, foco e fé”. E coloca a porra da sua foto no celular.

Na verdade, tanto faz.
Esse post não tem muito sentido e estou reclamando de algo koelhístico.
E foi só uma desculpa para dizer que amo essa foto, pela sinceridade da coisa.

nheco

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sentimentos são quase impossíveis de ser tão bem retratados.

Segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

3 de fevereiro de 2015

Voltar de um fim de semana para a mesa do trabalho nunca é fácil. A sexta, sábado e domingo podem ser divertidos, recheado de amigos e histórias engraçadas, festas, encontros, momentos mágicos, mas a segunda-feira estará sempre lá, nos colocando nos trilhos da realidade. Ontem não foi diferente. O fim de semana tinha sido pesado: Danilo está, mais uma vez, com um “dente chato” nascendo. Não houve febre como em algumas outras vezes, mas o bom humor do pequeno se foi. Nem a festinha de aniversário da Lara, filha da Jadiny, tinha o convencido que seria um final de semana divertido. Choro, manha, cara fechada e hiperatividade. O dia dele parecia ter 48h. O nosso, 72h.

Coloca no carrinho e passeia. Cansa. Tira do carrinho, coloca no chão. Escala a escada. Tira da escada, coloca no cadeirão para alimentar. Cospe tudo, berra, chora. Coloca o DVD da Galinha Pintadinha: alguns poucos minutos de alívio – para todos. Isso foi sábado e domingo. O coitado cansou, eu cansei, a Marcia cansou. Até a Ramona deu uma caída, visto que não quis brincar de bola com o tubarão de 14 meses. O domingo terminou e veio aquela sensação: “Ufa! Ainda bem que amanhã é segunda-feira”.

Trabalhei normalmente. A chuva logo pela manhã, o trem lento, o guarda-chuva furado, a internet lenta. A melhor parte do “dia útil” foi almoçar a feijoada que fiz no domingo – sim, ficou muito boa, obrigado. Na volta, veio a dúvida que não saiu da minha cabeça ao longo do dia inteiro, mas que eu evitava trazer à tona: “será que vai estar tudo igual?” Não, não estava. Ainda bem.

Chego em casa, brinco rapidamente com a Ramona e dou um beijo na Marcia. “E ele, como é que está?”. Ele já estava sorrindo. Feliz em me ver (isso é MUITO gostoso). Lavo as mãos, pego ele no colo e saio passeando pela casa. “E aí, como foi seu dia no berçário? Aprendeu coisa nova? Brincou bastante?”. A resposta é quase sempre a mesma: “- papapapapa” e aponta para alguma coisa que ele quer. Mamadeira, tv, folhas na árvore, carro e por aí vai. Toca o celular. É do trabalho. “Puta que pariu!”.

Trabalho “urgente”. Vou usar o notebook da Marcia, pois estou com preguiça demais de ir até os fundos da casa e usar o PC. Danilo fica no chão brincando com alguma coisa que nem me lembro mais, e a mãe por perto. De repente, ele me vê trabalhando e diz: “Papaiê!”. Não paro de trabalhar – idiota. A mãe já chorando, eu rindo e respondendo ao maldito e-mail recheado de erros de português. “Enviar”. Tchau, segunda-feira. Tchau sábado trabalhoso, tchau domingo chato. Levanto, beijo o pequeno, pego no colo e voltamos a brincar. Não repetiu mais a palavra mágica, mesmo comigo insistindo.

Não tô nem aí.
Ontem, “mêsversário” dele, quem ganhou o presente fomos nós.
Essa segunda-feira podia não ter fim.

Eu, Mórmon

20 de janeiro de 2015

Quarta-feira passada, por volta das 20h, voltava da padaria. Fui comprar o básico para a sobrevivência: pão, presunto, queijo, refrigerante, cerveja e cigarros. Subindo a rua, quase no portão de casa, avistei dois rapazes de camisa social branca, calça social preta, sapatos sociais, gravata e aquelas bolsas de ombro masculino-feminino. Já tinha os visto algumas outras vezes. Sempre mudava de calçada ou fingia que o volume dos fones de ouvido estavam altos demais para conseguir ouvir um “Bom dia”, “Boa tarde” ou “Boa noite”. Naquela noite, porém, eu estava sem fones. Alvo fácil.

missionarios-mormons

– Boa noite, tudo bem?
– Opa, e aí? Beleza, e vocês?
– Tudo bem. Podemos conversar um pouco com você?

Pelo aperto de mão, senti que estavam desarmados. Mas aquela bolsa no ombro ainda me assustava. Iriam tirar dali uma bíblia? Uma revista? Um caderno brochura com todos meus pecados? Um Mupy?

– Claro, claro, fala aí!
– Somos da Igreja Mórmon (Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias). Você conhece?
– Ah, sim, conheço. É aquela que foi fundada nos Estados Unidos, certo?

Pensei seriamente em falar que sabia da recém-revelada história sobre o fundador da igreja, Joseph Smith, que se casou com cerca de 40 mulheres, inclusive, menores de idade. Também pensei em citar que sabia que Brandon Flowers era mórmon – e eles iam me perguntar de que banda ele era. Mas a noite estava agradável e eu tinha cerveja e cigarros.

– Nossa! Isso mesmo! Como você conheceu?
– Ah, já tive amigos que frequentaram… (mentira camisa social branca).
– Que legal, que legal… e… você faz o quê?

Moro num bairro de classe média-alta, mas pagamos aluguel. Imaginei que eles esperavam uma resposta como “empresário”, “acionista” ou “consultor”, que é o termo da classe alta para “desempregado, mas com dinheiro”.

– Ahm… sou publicitário. Quer dizer…
– Publicitário? O que é isso? O que faz um publicitário?

Os mórmons que me pararam na rua eram, claramente, gringos. Arrastavam um português nota 6 – acima da média de muitos brasileiros letrados, diga-se de passagem. Balbuciavam palavras com alguma dificuldade e franziam as testas quando eu usava palavras como “assertividade” e “burocracia”. Enfim, expliquei que era jornalista, mas que trabalhava com publicidade.

– E você mora por aqui?
– Sim, por aqui – eu estava a 20 metros do meu portão, por isso, me limitei a apontar para um lado e dizer “ali”.
– Ah, então você conhece o Geraldo?
– Ahm… não. Confesso que não conheço muito bem meus vizinhos. Quase não paro em casa.

O papo já estava ficando comprido demais. Cinco minutos é um tempo que só costumo perder com colegas de trabalho e pessoas que conheço de rosto, me consideram amigo mas que não me lembro do nome ou de onde conheci.

– Então, pessoal. Bacana conhecer vocês, mas tenho que ir para casa. Criança pequenas esperando, sabem como é…
– Ah, então você tem filho? – porra, Koelho!
– É… tenho. De 1 ano, um menino.
– Que legal, que legal. Você gostaria de conhecer nossa igreja?

Eu sei onde fica a igreja deles. É bem bonita, por sinal. Fica a uns 10 minutos de casa, caminhando.

– Olha… pode ser. Pode ser que um dia desses eu apareça lá, ok?
– Então ME PASSA SEU TELEFONE QUE TE LIGAMOS PRA CONVERSAR MAIS!

Quase pensei ser um assalto. Mesmo com o rosto bondoso e calmo, a roupa bem alinhada, o comportamento reto. Vai que…

– Ah, sim. Anota aí – e passei meu número antigo, que não possuo desde 2011.
– Ah, tá ótimo! Rafael, certo?
– Sim, Rafael.
PODEMOS PASSAR NA SUA CASA NA SEXTA-FEIRA À NOITE, PARA CONVERSAR MELHOR?

Mano, calma lá. Na minha casa? Sexta-feira à noite? Pra conversar? Monogamia, meus amigos, sou adepto da monogamia!

– Olha, aí é complicado… eu chego tarde, às vezes não tenho tempo nem para ver TV… sabem como é…
– Claro, claro… QUE LEGAL! – oi?
– Então, pessoal… boa noite!
– Boa noite! Te esperamos no domingo na igreja, às 11 horas, pode ser?
– Opa, claro. Se der eu colo lá.
– Isso é para você nos conhecer melhor – e entregou um caderno de brochura, mas sem meus pecados. Apenas com a imagem de JC na capa e dentro… bem, não abri, não sei.

Acabei trombando com eles outra vez, no sábado de tarde. Meio que me ignoraram, mas fiz questão de mandar um “Boa tarde!” com um grande sorriso no rosto, aqueles que só carregam os tementes a Deus e à poligamia.

Aposto que tentaram me ligar.
Aposto que me esperaram no domingo.
Aposto que viram as latas de Germânia e o cigarro na sacola da padaria.