Esse ano, comemorei meu aniversário de forma antecipada. Fiz um churrasco em casa, convidei algumas dezenas de amigos, outra dezena de familiares e celebrei a proximidade dos “enta” – sim, os anos voam, sei que eles estão por aí, e chegarão em breve. O problema, talvez, é que pelas contas, eu teria, hoje, 39 anos. Isso porque desde os 25, me dizem que aparento ter mais de 30. Quando somos mais jovens – durante a adolescência, principalmente -, é muito bom ouvir isso: “Nossa, você tem 16? Pensei que tivesse 20!” Denota maturidade, experiência, inteligência. Já quando se passa dos 20, ah, meu amigo… você vira tio ou tia.
Lembro da fatídica vez que estava no Hangar 110 com um amigo (não lembro qual) para ver um show. No intervalo entre uma banda e outra, fui ao bar e o encontrei conversando com uma garota. Típica da casa: cabelo tingido, piercing no nariz, alargador na orelha e camisa de banda. Entrei na conversa por não conhecer mais muita gente por ali. Em certa altura, ela faz a pergunta que homem nenhum gosta de ouvir, ainda mais vindo de uma mulher.
– Quantos anos acha que tenho?
Sinceramente, não faço a menor ideia do porque ela tenha me perguntado aquilo. Mas senti um frio na espinha. Mulher é diferente. Se você diz que ela é mais nova, entende que parece menina, criança. Se você chuta alto, leva aquilo como uma ofensa. Chutei colocado, com calma.
– Bem, você não aparenta ter muito mais do que realmente deva ter – completei com um risinho a resposta patética.
– Mas, fala! Sério! Quantos anos? – maldita.
– Ahm, vejamos… você está num show onde a maioria do pessoal tem entre 25 e 30… então… tem… 25?
– Isso! Tá vendo, fulano? (esse amigo que não me lembro quem é) Ele acertou na hora!
– É que aparenta, mesmo – mentira, ela tinha cara de uns 29, mas né…
Foi então que o fulano – também maldito – mandou a pá de cal:
– E você? Quantos anos acha que o Koelho tem?
A resposta foi tão rápida e certeira que jurei ter deixado o RG cair do bolso.
– 32!
Acenei com a cabeça afirmativamente e pedi licença da conversa para ir fumar. E lamentar: eu já tinha cabelos brancos aparentes na lateral da cabeça. Eu já tinha rugas na testa. Eu tinha sido visto como um cara que se chama de “tio” ou “senhor” por uma “adulta” de 25 anos. E eu também tinha 25.
Contei para a esposa – à época, namorada – que riu. “Quem manda ficar xavecando essas menininhas roqueiras por aí?”
Se tivesse sido um xaveco, de repente, não teria me sentido tão incomodado. Lembro que naquela semana fiz a barba 3 vezes. Cortei o cabelo. E não adiantou nada – eu tinha, mesmo, envelhecido mais rápido.
Hoje, aos 32, acho isso bom. Não ótimo. Mas bom. Ao menos, posso dizer que aos 32 já completei partes importantes da vida: já fiz um filho, já formei uma família, já “escrevi um livro” – considero fazer músicas como sendo a mesma coisa.
Só me falta plantar uma árvore.
Vou plantar uma daquelas enormes, centenárias, que crescem demais a ponto de estragar as calçadas com suas raízes e a rede elétrica com seus galhos. E ainda suja a rua inteira derrubando uma quantidade absurda de folhas.
Só para irritar, como todo velho faz.